RESERVA AMBIENTAL


ENTENDENDO A ECOLOGIA

 
 
Ecologia é a ciência que estuda como os organismos interagem entre si e com o mundo natural. Essa palavra passou a ter uso geral somente no fim do século 19, quando cientistas americanos e europeus começaram a se autodenominar ecólogos. As primeiras sociedades e periódicos dedicados à Ecologia apareceram nas primeiras décadas do século 20. Desde então, a Ecologia tem passado por um enorme crescimento e diversificação, e os ecólogos profissionais agora são em número de dezenas de milhares. Agora, mais do que nunca, precisamos compreender como os sistemas ecológicos funcionam se intencionamos desenvolver as melhores políticas para manejar as bacias hidrográficas, as terras cultuivadas, as florestas secundárias (capoeiras), dos quais a humanidade depende para a alimentação, suprimento de água, proteção contra catástrofes naturais e saúde pública. Nesse aspecto o ISAM dá sua contribuição no sentido de conhecer e proteger os ecossistemas do Médio Mearim.
 
 
 
Pedreiras (MA), 22 de março de 2013
 

RESERVA AMBIENTAL E SISTEMAS ECOLÓGICOS

 
 
Numa reserva ambiental encontram-se sistemas ecológicos. Agora, mais do que nunca precisamos compreender como esses sistemas funcionam se intencionamos desenvolver as melhores políticas para manejar as bacias hidrográficas - na região do Médio Mearim temos a bacia hidrográfica do Rio Mearim - as terras cultivadas, os alagados e outras áreas. O manejo de recursos bióticos numa forma que sustente uma razoável qualidade de vida humana depende do uso inteligente dos princípios ecológicos para resolver ou prevenir problemas ambientais, e para dar suporte ao planejamento e práticas econômicas, políticas e sociais.
Nesse contexto, a Reserva Ambiental "Newton Martins Barbosa", do ISAM representa para o Médio Mearim uma área pioneira com esse objetivo, ou seja, ser ponto de partida para que estudos nos apontem os erros ambientais cometidos, e como planejar um desenvolvimento econômico sustentável para esta região.
 
 
Pedreiras (MA), 25 de dezembro de 2012

 




ECOLOGIA: A DINÂMICA DE COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS

 
ecologia é frequentemente definida como o estudo das interações dos organismos uns com os outros e com o seu meio ambiente físico, mas é mais simples defini-la como o estudo dos sistemas ecológicos ou ecossistemas. Um ecossistema é o conjunto de todos os organismos que ocorrem em um determinado local, juntamente com o ambiente com o qual eles interagem. Os objetivos da ecologia incluem buscar entender as interações entre os organismos e as interações entre os organismos e todos os componentes abióticos de seu ambiente.

O grande desafio de estudar ecossistemas é a sua complexidade, pois envolve fisiologia celular, genética, crescimento, morfologia, a diversidade de plantas e animais, visto que todos esses aspectos são importantes para a compreensão de como os ecossistemas funcionam.

Além disso, o conhecimento da química de enzimas pode ser necessário para a explicação complexa, mas deve-se também pensar em climas, solos, história geológica, animais tanto como predadores quanto polinizadores, interações com espécies de micróbios, biologia evolutiva e muitos outros aspectos.

Mesmo diante dessa complexidade espera-se que os ecólogos sejam capazes de responder questões tais como: Por quê os campos são comuns em alguns lugares e florestas em outros? Por quê existem muito mais espécies de plantas e animais nos trópicos úmidos (Amazônia) do que nas regiões polares?

É o objetivo da ecologia encontrar uma explicação de como um ecossistema atingiu o estado em que se encontra e predizer como ele mudará no futuro. Em todos os casos é dada especial atenção ao componente humano. Como os homens afetaram ecossistemas em escala local ou global? Como será o futuro, dependendo de diferentes premissas sobre o que for feito ou não pelos seres humanos durante os próximos anos? Fazer previsões acuradas foi extremamente difícil no passado, porque a complexidade dos ecossistemas torna fácil a omissão de interações sutis.

Sumarizando pode-se dizer que os ecólogos procuram entender porque os sistemas vivos são da forma como são? Colocando esta questão de forma aberta significa que os ecólogos devem unir forças com os evolucionistas.

 
Pedreiras (MA), 14 de novembro de 2012




BIOMAS  BRASILEIROS






Biomas são regiões biogeográficas moldadas pelo clima e que se distinguem um dos outros por uma coleção única de ecossistemas e espécies. Assim, os biomas apresentam uma fisionomia relativamente homogênea, mas com variações internas. Exemplo característico do Médio Mearim é o bioma dos cocais.
O Brasil possui oficialmente seis biomas continentais: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Campos do Sul; e um Costeiro Marinho.
Em conjunto, os biomas brasileiros abrigam cerca de 20% das espécies do planeta e que protegem 12% da água doce do mundo e dão significativa contribuição para a estocagem de carbono e, consequentemente, para a estabilidade do clima.
Agregue-se a riqueza do solo e a amenidade climática que permitem ao Brasil ser um dos maiores produtores mundial de alimentos, assim como uma das maiores reservas de minérios, petróleo e gás. Este último estando prestes a ser explorado nesta região do Médio Mearim.
Analisando-se sumariamente esses biomas tem-se:
Amazônia. Tem registrado redução na taxa de desmatamento, mas esse segue sendo um problema, responsável não apenas pela perda de espécies, mas também pela maior proporção de emissão de gases de efeito estufa do Brasil.
Cerrado. O outro – hotspot de biodiversidade brasileira – já tem mais da metade de sua cobertura original profundamente alterada e a expansão da fronteira agrícola segue sendo uma grande ameaça a integridade desse bioma.
O bioma do Médio Mearim é uma transição entre os biomas Amazônia e Cerrado. Sua preservação é imprescindível.
Caatinga. Conta com uma das menores extensões de área protegida entre os biomas brasileiros e uma das maiores taxas de desmatamento.
Mata Atlântica. Onde vivem mais de 60% dos brasileiros, foi reduzida a algo em torno de 12% de sua cobertura original, o que a torna um hotspot de biodiversidade, ou seja, um bioma de grande diversidade, alta taxa de espécies com ocorrência restrita a esse ambiente – endemismo – e alto grau de degradação. O Estado de São Paulo tem um dos melhores programas de conhecimento e preservação desse bioma, trata-se do Programa Biota FAPESP.
Pantanal. Possui grande diversidade e mananciais de rios, mas apresenta índices expressivos de desmatamento.
Campos do Sul. Base de uma pecuária com rebanhos de bovinos e ovinos, de qualidade, esse bioma tem sido velozmente substituído por florestas artificiais e homogêneas.
Costeiro Marinho. Historicamente aquele menos protegido pelo Brasil, sofre com cerca de 80% de suas espécies de pescado ameaçadas de extinção, e ainda terá de lidar com a expansão na exploração do petróleo do pré-sal nos próximos anos.

Pedreiras (MA), 27 de outubro de 2012.

Francisco Barbosa
Sócio Presidente do ISAM
 


CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DO MÉDIO MEARIM

A Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, do Instituto Socioambiental do Médio Mearim – ISAM localiza-se no Bioma do Médio Mearim. Daí a importância de se caracterizar esse bioma nos aspectos geográfico e ecológico.
A região do Médio Mearim localiza-se no centro do Maranhão. Está a 04°33’46’ e 05°07’02” de latitude Sul e 44°35’02” e 45°15’22” de longitude Oeste. Compreende nove municípios.
Quanto aos solos, a região é predominantemente formada pelos solos  Latossolos e Espodossolos em sua maioria, de média fertilidade, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos de 1998.
 Os parâmetros meteorológicos indicam clima quente do tipo Awi, da classificação de Koppen.  A precipitação pluviométrica é caracterizada por dois períodos distintos de chuvas, dezembro a maio com índice pluviométrico constante com aproximadamente 80% do total anual de precipitação, e outro, de junho a novembro com pouquíssima precipitação pluviométrica.
O clima molda o bioma, esse se caracteriza por uma coleção única de ecossistemas e espécies. O Bioma do Médio Mearim é de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado.
O Bioma Amazônia se destaca pelas formações florestais de terra firme, de várzea e de igapó. O Bioma Cerrado é constituído por um mosaico de distintos tipos de vegetação. A alta biodiversidade do Cerrado é comparável a da Amazônia.
Nos ecossistemas e espécies que compõem o Bioma do Médio Mearim se destaca o ecossistema do babaçu (Orbignya sp.), fitogeograficamente denominado de região dos Cocais. Na formação do Bioma do Médio Mearim, a espécie babaçu constituía apenas um dos múltiplos componentes das florestas originais que cobriam esta região. Com a ação antrópica na região a vegetação original foi substituída por culturas e pastagens. Na sucessão florística o babaçu passou a ser a espécie dominante devido as novas condições ecológicas que se formou.
Na sua conceituação de formação original o Bioma do Médio Mearim encontra-se em zona de transição entre  a Floresta Pluvial Tropical (Pré Amazônia) e a Floresta Sazonal Tropical (Cerrado), que encontra-se na Zona Climática Tropical com estação chuvosa de verão (aqui denomina-se inverno),  e estação seca de inverno (aqui denomina-se verão). Sua vegetação característica é formada por árvores, arbustos e o babaçu. Essa última espécie passa a ser dominante após a derrubada da vegetação original.

Pedreiras (MA), 22 de outubro de 2012

Francisco Barbosa
Sócio Presidente do ISAM
 



Reserva Ambiental Preserva a Biodiversidade


 Reserva Ambiental têm papel de destaque na preservação da biodiversidade e na conscientização do público sobre a utilidade e o valor dos recursos vegetais para a vida na Terra. O conceito de biodiversidade abrange toda a variedade de organismos vivos e os processos ecológicos que fazem estes organismos preservarem sua estrutura e funcionarem em conjunto. Partindo desse entendimento, a conservação da biodiversidade deve atuar em vários níveis de organização biológica, preservando os componentes de biodiversidade e também as interações entre eles, ou seja, genes, indivíduos, populações, espécies, comunidades e ecossistemas. É importante que a reserva ambiental não seja apenas um depositário da flora natural, mas que integre técnicas de preservação ex situ e in situ.

 A preservação ex situ, consiste na preservação de plantas, material vegetal ou sua identificação fora do seu ambiente. No caso da Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, do Instituto Socioambiental do Médio Mearim (ISAM) o material botânico identificado está sendo armazenado no blog do instituto, no qual cada espécie consta de uma página com informações botânicas e agronômicas.

A conservação in situ, ao preservar as plantas em seu ambiente, permite a continuidade de seu ciclo biológico e processo evolutivo, permitindo a pesquisa da flora. Além da sua Reserva Ambiental própria, o ISAM pode manter áreas de reservas naturais em parcerias com outras instituições.

A adoção dessas duas formas de preservação, denominada preservação integrada, implica uma abordagem multidisciplinar e o estabelecimento de estudos em diferentes áreas da ciência. Portanto, além da Botânica com o enfoque na taxonomia, também são desenvolvidos estudos em Biologia da preservação, Ecologia, Etnobotânica, Anatomia e Genética, entre outros. Esses estudos devem gerar conhecimento sobre as espécies vegetais, para uso atual ou das gerações futuras, visando à preservação, à reintrodução de espécies, à recuperação de ambientes e ao uso sustentável dos recursos naturais.

Além disso, o ISAM através da sua Reserva Ambiental se capacita para prestar assessoramento técnico a dirigentes e executores do planejamento de estratégias de conservação e uso sustentável da diversidade biológica. Nesse sentido o ISAM pode estabelecer parcerias com outras instituições de pesquisa, governo e comunidade a fim de obter resultados mais efetivos em suas ações.

Agregue-se a importância da reserva ambiental a estimativa de que existam 14 milhões de espécies no mundo e que o número de espécies conhecido seja de cerca de 1.7 milhões. O agravante é que, além do elevado grau de desconhecimento da biodiversidade, a atual taxa de extinção de espécies causada por intervenção humana é de mil a 10 mil vezes maior do que seria a taxa natural de extinção, segundo avaliação do The World Conservation Union.

Diante da estimativa de que 60 mil a 100 mil espécies de plantas no mundo estão ameaçadas de extinção, a Estratégia Global (Estratégia Global para Conservação das Plantas), lançada em 2002 na Holanda, conclama todos os países a participarem de um esforço mundial no sentido de deter a perda da diversidade biológica.

Estimativas indicam que o Brasil possui cerca de 200 mil espécies conhecidas e acredita-se que a biodiversidade brasileira possa atingir aproximadamente dois milhões de espécies. O país conta com uma das mais diversificadas floras, que representa de 16 a 20% da flora mundial. Entretanto, vários de seus ecossistemas vêm sofrendo pressões que levam à sua degradação. A Mata Atlântica, por exemplo, que dominava o cenário ao longo da costa brasileira por ocasião da chegada da corte portuguesa, possui hoje apenas cerca de 7% da sua vegetação original. A floresta tropical úmida da Amazônia brasileira vem sendo alterada em ações permanentes de desmatamentos, e incêndios pela perda de umidade. A floresta nativa do Médio Mearim, que se encontra quase que completamente alterada, integrava os ecossistemas da Pré-Amazônia maranhense.

É nesse contexto atual que a Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa” busca dar importante contribuição à preservação, conhecimento e valoração das espécies vegetais que formam os biomas do Médio Mearim no estado do Maranhão, de modo que os mesmos possam ser recursos utilizados no desenvolvimento econômico regional.

Francisco  Barbosa

Presidente do ISAM

Sistemática Vegetal

A Sistemática ou Taxonomia Vegetal é um ramo da Biologia Vegetal que estuda a diversidade das plantas com base na variação morfológica e nas relações evolutivas, produzindo um sistema de classificação, o qual permite estabelecer uma identificação ideal para as plantas (SOUZA & LORENZI, 2005). É feito agrupando-se as plantas dentro de um sistema que compreende a identificação e a determinação de um táxon idêntico ou semelhante a um existente.
Essa ciência por muito tempo foi vista como uma ciência inerte, cujo objetivo principal era nomear as plantas com base em suas características morfológicas (principalmente externas) e reprodutivas. Entretanto, atualmente, cada vez mais a Sistemática vem mostrando a sua importância, principalmente ao nível de Biologia Evolutiva e Biologia Comparada. Através desses estudos pode-se obter embasamento filogenético e dessa forma desenvolver hipóteses sobre os processos evolutivos e produzir sistemas de classificação (PIRANI et al., 2000).
A Sistemática auxilia na descrição e compreensão da diversidade de determinada área através da análise de parentesco entre as espécies, tornando possível a elaboração de um sistema de classificação baseado na história filogenética, como também construção de uma previsão das características dos organismos atuais encontrados naquela área. Pesquisas dessa natureza são utilizadas nas definições de estratégias e prioridades de conservação de áreas naturais, controle ambiental e elaboração de planos de manejo (SOUZA & LORENZI, 2005). O trabalho do taxonomista ou sistemata é feito no campo e no herbário. No campo, ele observa as plantas, e se familiariza com elas em seu habitat natural. No herbário, ele as examina minuciosamente (FILGUEIRAS, 2008).
As plantas sempre foram de grande utilidade aos seres humanos, servindo de alimento, de combustível, matéria-prima para fabricação de compostos medicinais, entre inúmeras outras aplicações. Com o aumento do conhecimento, surgiu a necessidade de juntar e repassar essas informações (SOUZA & LORENZI, 2005).
Segundo Souza e Lorenzi (2005) os gregos tentaram reunir e organizar o material empírico acumulado, porém basearam-se apenas nos caracteres mais facilmente observados. Ao longo do tempo, foram surgindo numerosos sistemas de classificação que consistiam em reunir um conjunto de unidades taxonômicas nas quais as plantas eram ordenadas, e por ordem cronológica esses sistemas costumam ser agrupados da seguinte forma:
Sistema baseado no hábito – primeiro que se tem conhecimento. Criado por Theophrastus entre 380-278 a.C. “O pai da botânica” fez a classificação pelo hábito, ou seja: árvore, arbusto, erva, e plantas cultivadas. Também se destacam cientistas como Dioscórides, Albertus Magnus e Andrea Caesalpino (1519-1603), este último foi considerado o primeiro taxonomista vegetal.
Sistemas artificiais baseados em características numéricas – sistema sexual criado por Linnaeus em 1753 e publicado em seu livro Species Plantarum, o qual evidencia as características florais. Baseando na presença e ausência de flores e principalmente no número e posição dos estames dividiu o Reino Vegetal em 24 classes.
Sistemas Naturais – classificação por semelhanças, ou seja, por compartilhar caracteres em comum. Um dos principais sistemas publicados neste período foi o de Antoine de Jussieu (1686-1758), que reconheceu 15 classes e 100 ordens. Esse autor sugeriu a classificação em Acotiledônea, Monocotiledônea e Dicotiledônea. Considerando a presença e ausência de pétalas e a soldadura destas reconheceu três grupos, denominando-os de Apetalae, Monopetalae e Polypetalae. Outro cientista importante foi Augustin P. de Candolle (1778-1841), que em seu sistema fez a distinção entre plantas vascularizadas e talófitas, porém houve a inclusão de Pteridófitas como Monocotiledôneas.
Sistemas baseados em filogenia – baseados na teoria da evolução das espécies de Darwin (1859), relacionando-a com afinidades em relação à ancestralidade e descendência. Os sistemas gradistas mais conhecidos dentro da sistemática filogenética são os trabalhos de Engler (1964), Cronquist (1968, 1981 e 1988) e Dahglgren (1985). Este último mostrou uma preocupação maior com as abordagens filogenéticas e construiu um tratamento cladístico para Monocotiledôneas. Já a sistemática filogenética ou cladismo criada por Willi Henning (1950), considera que a história evolutiva da relação ancestralidade-descendência dos organismos pode ser reconstruída e representada através de um cladograma, e que para a construção deste diagrama hipotético deve ser levada em consideração pelo menos uma característica monofilética. A partir da década de 90 destacam-se os trabalhos produzidos por Walter Judd (1999), que utilizou também técnicas moleculares para a construção de cladogramas.
Segundo Souza & Lorenzi (2005) desde a metade do século XVIII, os nomes das plantas eram formados por diversas palavras, porém em 1753, Linnaeus propôs o sistema Binomial no qual a primeira palavra seria usada para indicar o gênero e a segunda seria o epíteto específico. Todavia, com o surgimento de plantas novas, tornou-se necessário a elaboração de algum documento que pudesse organizar de forma adequada os binomes e as categorias taxonômicas. Assim, em 1867, Alphonse de Candolle sugeriu algumas normas de organização da nomenclatura botânica. Após muitas revisões e discussões o “Código de Paris de 1867” foi criado e desde então são realizados periodicamente congressos internacionais com o objetivo de consolidar um Código Internacional de Nomenclatura Botânica, estabelecendo e universalizando os nomes referentes a cada categoria taxonômica. Este Código está organizado de acordo com Princípios, Recomendações e Regras. Grupos taxonômicos de qualquer categoria são tratados como taxa (singular: taxon).
Os taxa são arranjados hierarquicamente, sendo a Espécie a unidade básica; as principais categorias dos taxa em seqüência descendente são: Reino, Divisão, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie.
As categorias secundárias em sequência descendente são: tribo (entre família e gênero), seção e série (entre gênero e espécie) e variedade e forma (abaixo de espécie);
Caso um maior número de categorias de taxa seja necessário, basta acrescentar o prefixo sub aos termos que indicam as categorias principais ou secundárias: subclasse, subfamília, subgênero e subespécie; • As seguintes terminações dos nomes designam as categorias taxonômicas em Angiospermas: a) Divisão: ophyta (ex.: Magnoliophyta) b) Classe: opsida (ex.: Magnoliopsida) c) Subclasse: idae (ex.: Rosidae) d) Ordem: ales (ex.: Myrtales) e) Família: aceae (ex.: Euphorbiaceae). Gênero e espécie não têm terminações fixas.
Nomenclatura Binomial. Todo nome deve ser acompanhado pelo nome do autor da espécie, e deve aparecer destacado no texto. Ex.: Erythroxylum coca Lam. ou Erythroxylum coca Lam.
Quando uma espécie muda de gênero, o nome do autor do basiônimo (primeiro nome dado a uma espécie) deve ser citado entre parênteses, seguido pelo nome do autor que fez a nova combinação. Ex.: Tabebuia alba (Cham.) Sadw.; basiônimo: Tecoma alba Cha.
Glossário
Taxonomia: ciência que elabora as leis da classificação baseado em características morfológicas, relações genéticas e suas afinidades.
Nomenclatura: emprego dos nomes corretos das plantas, obedecendo algumas regras. Classificação: ordenação das plantas em um táxon.
Táxon: termo estabelecido pelo Código de Internacional de Nomenclatura Botânica
para designar um unidade taxonômica de qualquer hierarquia (família, gênero, espécie etc...).
Unidades Sistemáticas: de acordo com as relações entre as plantas, elas devem ser enquadradas em categorias que indique suas afinidades sistemáticas. As unidades sistemáticas são estabelecidas pelo Código de Internacional de Nomenclatura Botânica. Os nomes aplicados a todas as categorias são latinos ou latinizados. Representa um grupo de plantas, havendo categorias maiores e menores.

Categoria Taxonômica e Suas Terminações: reino vegetal.
Divisão (-phyta)
Subdivisão (-phytina)
Classe (-ae, opsidae, atae)
Subclasse (-idae)
Ordem (-ales)
Subordem (-ineae)
Família (-aceae)
Subfamília (-oideae)
Tribo (-inae)
Gênero, primeiro nome das duas palavras que constituem o binômio da nomenclatura binária.
Espécie, categoria estabelecida no sistema Lineano.
Sistemas de Classificação em três tipos: a) sistema artificial classifica os organismos por meio de um único caráter; b) sistema natural baseado na afinidade natural das plantas; c) sistema filogenético baseado na variabilidade das espécies.

Referências
FILGUEIRAS, T. S. Botânica para quem gosta de plantas. São Paulo: Livro Pronto. 2008. 2ª Edição.
PIRANI J. R.; MELLO-SILVA R.; SANO P. T. Apostila avulsa da disciplina Taxonomia de Fanerógamas. São Paulo: 125 p., 2000.
SOUZA V. C.; LORENZI H. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005.



RESERVA AMBIENTAL “NEWTON MARTINS BARBOSA”

 IDENTIFICAÇÃO  BOTÂNICA

A Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, do ISAM, destina-se à preservação da flora nela existente, para que sejam viabilizadas pesquisas botânicas de médio e longo prazo, representando assim uma garantia contra a erosão genética dessa vegetação, visando sua utilização – ecológica e econômica – pela sociedade do Médio Mearim.
O aproveitamento – ecológico e econômico – da flora de qualquer região deve iniciar por sua identificação botânica. Esta é feita pela Taxonomia e Sistemática, que agrupam as plantas de acordo com seu grau de parentesco e suas afinidades naturais, isto é, sua filogenia. Para tanto, são usados subsídios vindos de todos os demais campos da Botânica, tais como morfologia, anatomia, filogenia, fitogegrafia e evolução.
A nomenclatura das plantas é regida pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica, que é atualizada a cada quatro anos, no Congresso Internacional de Botânica.
A sistemática agrupa as plantas em grandes categorias, geralmente chamadas Divisões. Estas Divisões são formadas por Ordens, Famílias, Gêneros e Espécies. Esse trabalho é feito no campo e no herbário. No campo ocorre a coleta do material botânico – flor, fruto, folhas, localização etc. – no herbário esse material é examinado minuciosamente.
O ISAM iniciou o trabalho de campo em março de 2011, na Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, em Pedreiras (MA). O herbário utilizado para a identificação desse material é o Herbário IAN, do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA). Já foram identificadas dez espécies:
Angico (Anadenanthera macrocarpa) (Benth.) Brenan
Axixá (Sterculia excelsa) Mart.
Bordão (Samanea tubulosa) (Bentham) Barneby; Grimes.
Cabo-machado (Pteredon emarginatus) Vogel
Juruparana (Gustavia augusta) L.
Maçaranduba (Manilkara bidentata) (Miq.) T. D. Penn.
Mufumbo (Campomanesia lineatifolia) Ruiz & Pav.
Mutamba (Guazuma ulmifolia) Lam.
Pau-d’arco-amarelo (Handroanthus serratifolius) (Vahl) S. O. Grose.
Pau-d’arco-branco (Tabebuia roseoalba) (Ridl.) Sandwith.
Pau-marfim (Agonandra brasiliensis) ex Benth. & Hoo. f.
Pau-roxo (Dalbergia cearensis) Ducke.

Pitombeira (Talisia esculenta) (A. St. –Hil.) Radlk.
Pituruna (Cenostigma tocantinum) Ducke.
Sapucaia (Sterculia striata) A. St. –Hil. & Naudin.
Tuturubá (Pouteria macrophylla) (Lam.) Eyma.
Estas dez espécies estão disponibilizadas neste blog. Além da identificação botânica (família, espécie, morfologia, fenologia e ecologia), são apresentadas informações fitotécnicas (obtenção de sementes e produção de mudas). A utilização das mesmas é apresentada, e também a foto de cada espécie, na Reserva Ambiental, feita em julho de 2011.
Uma das utilizações importantes e imediatas, dessas dez espécies, que o ISAM oferece à sociedade do Médio Mearim é inseri-las na recomposição da flora ciliar da bacia hidrográfica do rio Mearim. Com o apoio de políticas públicas e programas já disponíveis, o ISAM pode oferecer do bioma do Médio Mearim o aproveitamento econômico de sua floresta secundária (capoeiras), também a partir das espécies identificadas.
O trabalho de identificação botânica das espécies continuará. Neste primeiro momento, na Reserva Ambiental; posteriormente em áreas escolhidas (por critérios ecológicos e econômicos) na região do Médio Mearim.

Belém (PA), 15 de novembro de 2011

Francisco Barbosa


Sócio Presidente - ISAM



GLOSSÁRIO DE MORFOLOGIA VEGETAL

Para auxiliar no entendimento dos termos botânicos existentes na descrição das espécies vegetais identificada na Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, do ISAM, agrega-se este Glossário de Morfologia Vegetal, de modo que as pessoas leigas em botânica possam ter um melhor entendimento possível das informações que constam na ficha de cada espécie vegetal identificada, e assim, com um melhor conhecimento da Flora do Médio Mearim, contribuam para sua preservação e uso econômico. Seguem-se os termos botânicos encontrados nas fichas de identificação das espécies vegetais aqui disponibilizadas.
Flor Actinomorfa Diclamídea. Flor com simetria radial, isto é que pode dividida em duas metades exatamente iguais em mais de um plano imaginário que passa pelo ponto central do eixo da flor. Diclamídea porque apresenta os dois verticilos vegetativos, isto é, apresenta tanto o cálice quanto a corola observáveis.
Flor em Umbrela. Inflorescência com o eixo bastante congestionado, fazendo todas as flores surgirem aparentemente do mesmo ponto. A umbrela pode ter todas suas flores voltadas para cima ou pode ter flores voltadas para todos os lados, formando uma esfera de flores.
Folha Alterna. Tipo de filotaxia (arranjo das folhas ao longo do eixo caulinar, que tende a minimizar o sombreamento de uma folha por outra) onde apenas uma folha é produzida em cada nó. Normalmente, a folha seguinte surge em posição diferente da anterior.
Folha de Ápice Lobado. Diz-se da folha ou qualquer outro órgão ou estrutura laminar que se encontra parcialmente dividida em um número determinado de segmentos, que podem ser iguais entre si ou não.
Folha Composta Pinada. É aquela cuja nervura central forma um eixo alongado onde se inserem segmentos ou folíolos.
Folha Cordada/Cordiforme. Folha ou outra estrutura laminar que apresenta formato de coração, isto é, possui ápice pontiagudo e lobos basais arredondados. Algumas vezes pode transitar para uma forma sagitada.
Folha Orbicular. É aquela que possui um contorno perfeitamente circular, ao ponto de não ser possível discriminar ápice e base a não ser pelo ponto de inserção do pecíolo e pelo ápice da nervura central.
Fruto Baga Globosa. Fruto com pericarpo (porção comestível) carnoso mais ou menos uniforme, contendo usualmente um grande número de sementes. A baga é o fruto carnoso mais difundido e pode variar imensamente em forma e textura. Globosa por ser esférica.
Fruto Cápsula. Fruto simples, seco, deiscente (estrutura botânica, mais usualmente frutos e anteras, que pode abrir-se de forma espontânea na maturação), formado por dois ou mais carpelos (unidade do gineceu, parte da flor que desempenha o papel feminino na reprodução sexuada.
Fruto Equinocarpo. Fruto de qualquer tipo cuja superfície é densamente coberta de acúleos (espinhos), com aspecto de ouriço.
Fruto Pixídio. Fruto seco que se abre transversalmente na extremidade, separando uma “tampa” apical (ou opérculo) do restante do fruto (ânfora).
Glabra/Glabro. Superfície sem pelos. No entanto, o termo glabrescente representa estruturas com pelos esparsos, como se estes estivessem se extinguindo.
Inflorescência em Fascículos Axilares. É o eixo caulinar que, produzflores ao longo do seu comprimento, produzindo duas a três flores a partir da gema formada na junção do caule com a folha.
Panícula de Corimbo. Inflorescência semelhante ao racemo, mas cujas flores tem pedúnculos de tamanho diferentes, sendo as mais basais aquelas com pedúnculos mais longos. Isso faz com que as flores sejam apresentadas todas em um mesmo nível.
Planta Caducifólia. Planta com um número reduzido de folhas e caule suculento e fotossintético. O termo é utilizado para as plantas que não cactáceas.
Planta Ciófita. Planta que vegeta melhor em lugares sombrios.
Planta Decídua. Planta de hábito arbóreo ou arbustivo que perde todas as folhas durante a estação que a ela é a mais desfavorável do ano.
Planta Esciófita. Necessita de sombreamento para desenvolver.
Planta Heliófita. Planta que obrigatoriamente cresce sob luz solar plena e não é capaz de se desenvolver totalmente em sombra ou meia-sombra.
Planta Hidrófita. Que crescem e produzem suas gemas de renovação dentro do meio aquático. Essas plantas são descendentes de grupos terrestres e apresentam uma série de adaptações para a vida submersa.
Planta Secundária. É aquela que atende ao mecanismo pelo qual as florestas tropicais se auto-removam,através da cicatrização de locais perturbados que ocorrem a cada momento emdiferentes pontos da mata.
Planta Perenifólia. Cujas folhas não caem antes das novas não estarem já desenvolvidas.
Planta Semidecídua. Planta que perde parte das folhas durante a estação que a ela é a mais desfavorável do ano.
Planta Xerófita. Vegetal com características que permitem sua sobrevivência em ambiente seco ou com períodos prolongados de falta de água. Plantas xerófitas usualmente apresentam substituição de folhas por espinhos, suculência e várias outras adaptações.
Latescente/Lactescente. É a planta ou um dos seus órgãos que produz látex e é capaz de liberá-lo com o rompimento dos tecidos. Freqüentemente, a latctescência é um importante fator para o reconhecimento em campo.
Opérculo. Designação da parte apical de um fruto seco do tipo pixídio, que se separa do restante do fruto (ânfora) como uma “tampa” liberando as sementes. Também é conhecido como caliptra.
Panícula. É um cacho de cachos, ou seja, um racemo (inflorescência com flores inseridas ao longo de um eixo alongado) onde no lugar das flores no eixo principal estão racemos menores.
Pecíolo Pubérulo/Pubescente.Estrutura usualmente filiforme que faz a ligação entre a porção laminar da folha e o caule, permitindo uma maior mobilidade por não ter uma área laminar. Por ser pubescente possui uma superfície coberta de pelos curtos, frágeis, porém densos. É mais ou menos similar a uma superfície pilosa, mas difere por ter pelos mais curtos e bem mais densos.
Racemo. Inflorescência com flores pediceladas (eixo que porta cada flor de uma inflorescência) inseridas ao longo de um eixo alongado.
Ritidoma. Efeito causado pela formação de uma ou mais peridermes (tecidos oriundos de crescimento secundário que substitui a epiderme e apresenta crescimento em espessura, atuando na formação da “casca” – súber – de árvores e arbustos), no floema (tecido das plantas vasculares encarregado de levar a seiva elaborada pelo caule até a raiz e aos órgãos de reserva), muitas vezes formando uma casca que descama em profusão.
Tomentoso (a). Superfície coberta por tricomas (célula ou conjunto de células da epiderme que se projetam na forma de pelos, escamas ou papilas) relativamente curtos, emaranhados, rígidos e densos, a ponto de serem bastante perceptíveis ao toque.

 
MIDDLE MEARIM SOCIAL ENVIROMENTAL INSTITUTE – ISAM
ENVIRONMENTAL RESERVE "NEWTON MARTINS BARBOSA”
BOTANICAL IDENTIFICATION

The Environmental Reserve "Newton Martins Barbosa", of ISAM, intended to preserve flora existing therein, so that they are technically possible botanical surveys of medium and long term, thus representing a guarantee against genetic erosion of this vegetation ecological use, targeting – cost-effective – by the society of the Middle Mearim.
Ecological and economic leverage of the flora of any region should start by their botanical identification. This is done by taxonomy and systematics, which groups together the plants according to their degree of kinship and their natural affinities, i.e. its phylogeny. For both, are used subsidies from all other fields of Botany, such as morphology, anatomy, phylogeny, phytogeography and evolution.
The nomenclature of plants is governed by the International Code of Botanical Nomenclature, which is updated every four years, at the International Congress of Botany.
The systematic groups plants into broad categories, usually called divisions. These divisions are formed by orders, Families, genera and species. This work is done in the field and herbarium. In the field of botanical material collection occurs – flower, fruit, leaves, location etc. – Herbarium this material is thoroughly examined.
 ISAM began fieldwork in March 2011, in environmental reserve "Newton Martins Barbosa", in Pedreiras (MA). The herbarium used for identification of this material is the Herbarium IAN, Botanics Laboratory of Embrapa Amazônia Oriental, in Belém (PA). Ten species have been identified:
Angico (Anadenanthera macrocarpa) (Benth.) Brenan.
Axixá (Sterculia excelsa) Mart.
Bordão (Samanea tubulosa) (Bentham) Barneby; Grimes.
Cabo-machado (Pteredon emarginatus) Vogel.
Juruparana (Gustavia augusta) L.
Maçaranduba (Manilkara bidentata) (Miq.) T. D. Penn.
Mufumbo (Campomanesia lineatifolia) Ruiz & Pav.
Mutamba (Guazuma ulmifolia) Lam.
Pau-d’arco-amarelo (Handroanthus serratifolius) (Vahl) S. O. Grose.
Pau-d’arco-branco (Tabebuia roseoalba) (Ridl.) Sandwith.
Pau-marfim (Agonandra brasiliensis) ex Benth. & Hoo. f.
Pau-roxo (Dalbergia cearensis) Ducke.
Pitombeira (Talisia esculenta) (A. St. –Hil.) Radlk.
Pituruna (Cenostigma tocantinum) Duck.
Sapucaia (Sterculia striata) A. St. –Hil. & Naudin
Tuturubá (Pouteria macrophylla) (Lam.) Eyma
These ten species are available in this blog. In addition to identifying Botany (morphology, family, species, phenology and ecology), information is presented crop science (obtaining seed and seedling production). The use of same is presented, and also a photo of each species, in environmental reserve, made in July 2011.
One of the important and immediate uses, these ten species that ISAM provides to society of the Middle Mearim is insert them in the reconstruction of ciliary flora Mearim River basin. With the support of public policies and programmes already available, ISAM can offer of biome Middle Mearim the economic exploitation of its secondary forest (capoeira), also from the species identified.
The botanical species identification work continues. In this first time, in environmental reserve; later in chosen areas (for economic and ecological criteria) in the region of the Middle Mearim.
Belém (PA), November 15, 2011

Francisco  Barbosa
Associated President - ISAM


A  FLORA  DO  MÉDIO  MEARIM¹

Francisco Benedito da Costa Barbosa² 
RESUMO
O desenvolvimento econômico mais expressivo vivido pelo Médio Mearim, no período de 1940 a 1970, deveu-se, entre outros fatores, pelo sucesso da agricultura camponesa estabelecida a partir da queima da biomassa da floresta primária que fertilizava o solo propiciando boas colheitas. Hoje, sua sucessora, a floresta secundária deve ser um agente do desenvolvimento regional, desde que estudada e inserida em programas que a viabilizem economicamente. O estudo da flora do Médio Mearim para seus diversos usos e preservação é um dos objetivos do ISAM. Este trabalho busca o entendimento da composição florística da região do Médio Mearim, desde a composição inicial, floresta primária, sua sucessora, floresta secundária, sua importância econômica, e a identificação botânica, e o papel da Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, localizada na cidade de Pedreiras, Maranhão.
Palavras-chave: floresta primária, floresta secundária, classificação botânica.

THE  FLORA  OF  MIDDLE MEARIM

  ABSTRACT
The economic development by more expressive lived in Middle Mearim 1940 to 1970, was due, among other factors, by the success of peasant agriculture established from the burning of biomass of primary forest, that fertilized the soil providing good harvests. Today, its successor, the secondary forest must be an agent for regional development, since studied and inserted into programs that allow economically. The study of flora Middle Mearim for its various uses and preservation is one of the goals of the ISAM. This work seeks the understanding of the floristic composition of the region of the Medium Mearim, since the initial composition, primary forest, its successor, secondary forest, its economic importance, and the botanical identification, beginning with the Reserve Environmental "Newton Martins Barbosa”, located in in the town of Pedreiras, Maranhão.
Key words: primary forest, secondary forest, botanical classification.

¹Pesquisa ISAM, 2011. Instituto Sociambiental do Médio Mearim. Reserva Ambiental.
²E,ngº. Agrº. Stricto Sensu em Planejamento do Desenvolvimento e Desenvolvimento Econômico. Sócio Presidente – ISAM.
FLORESTA  PRIMÁRIA

Para compreender o papel desempenhado por esse ecossistema no desenvolvimento regional é importante buscar o conhecimento disponível sobre a floresta primária que aqui existiu, a qual forneceu recursos naturais que contribuíram para esse desenvolvimento chegasse até nossos dias.
Nesta pesquisa utiliza-se a análise fenológica, ou seja, os padrões reprodutivos e de desenvolvimento, das espécies que ainda vegetam na região, e também informações científicas e empíricas das espécies que não mais existem neste ecossistema. A periodicidade nos padrões reprodutivos e vegetativos das plantas reflete a distribuição anual e a disponibilidade de tipos específicos de recursos (Frankie et. al.,1974a).
Estudos em florestas tropicais úmidas – perfil da floresta primária do Médio Mearim – sugerem que os padrões fenológicos das árvores são dirigidos por uma variedade de fatores, incluindo características abióticas como chuvas, irradiação solar e temperatura (Ashton et al., 1988; Newbery et. al., 1998; Chapman et. al., 2005; Zimmerman et. al., 2007); modo de dispersão de sementes (Charles-Dominique et. al,. 1981; Wheelwright, 1985); atividade de polinizadores e dispersores de sementes (Frankie et.al., 1974a; Rathke & Lacey, 1985); variação nas condições de germinação (Janzen, 1967; Frankie et.al., 1974b;); posição no dossel (Newstron et. al., 1994); abundância relativa das árvores (Van Schaik et. al., 1993).
Observa-se do exposto que no Maranhão informações sobre a fenologia das espécies são ainda escassas e fragmentadas, e os dados existentes dizem respeito, principalmente, a algumas espécies de interesse ou potencial econômico. Assim, o ISAM se lança a uma árdua mais imprescindível tarefa, qual seja de suscitar que o conhecimento científico da flora do Médio Mearim.


FLORESTA  SECUNDÁRIA
Na região do Médio Mearim pode-se afirmar que cerca de 90% da cobertura florestal original – floresta primária – foi convertida em vegetação secundária – capoeira – formando um mosaico de vários estágios de desenvolvimento, inclusive em áreas já em fase de degradação. Apesar desse tipo de vegetação não suprir, integralmente, o papel da floresta primária, desempenha importante função como provedor de produtos e serviços ambientais, estes últimos de grande importância para a qualidade da vida regional.
No contexto da agricultura tradicional, a vegetação secundária que se desenvolve após o abandono da área, conhecida como capoeira, também tem um importante papel como vegetação de pousio para a restauração da capacidade produtiva dos cultivos e a manutenção do sistema de produção agrícola. É nesse bioma que ocorre a agricultura regional, embora esta não conte mais com o tempo de pousio necessário a uma produção agrícola rentável.
Nas capoeiras pode ser encontrada grande diversidade de produtos e espécies com importância econômica, medicinal alimentícia e paisagística, dos quais é possível citar frutos, plantas medicinais, melíferas, fibrosas, ornamentais, materiais para construção civil, madeira para carvão arborização e forragens para animais (Brown & Lugo, 1990). É principalmente neste contexto que o ISAM, através da Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa” desenvolva pesquisas para avaliar essa diversidade e múltiplas possibilidades de uso dessa flora.
O manejo dessas florestas é, provavelmente, um dos tópicos de pesquisa estratégica de maior relevância e potencial impacto. Estudos sobre a dinâmica de regeneração natural dessas áreas são essenciais para a elaboração e aplicação correta dos planos de manejo e tratamentos silviculturais, pois, com seus resultados, conseguem-se compreender os mecanismos de transformação da composição florística, constituindo ferramenta básica ao silvicultor para aumentar a densidade das espécies desejáveis e a qualidade da composição florestal (Oliveira, 1995), além de permitir um aproveitamento racional e permanente dos recursos florestais.
A sucessão na vegetação secundária envolve uma substituição de grupo de espécies ao longo do tempo, à medida que as espécies predecessoras fornecem condições mais favoráveis para a invasão e estabelecimento de espécies mais tardias. Para Barton (1984), as condições de luminosidade podem elevar a taxa de crescimento e a sobrevivência de espécies tolerantes em pequenas clareiras, porém, podem ser insuficientes para o processo de germinação e sobrevivência de espécies heliófitas de grandes clareiras.
No início da sucessão, essas condições são supridas, pois, na floresta secundária nova, há grande entrada de luminosidade, porém, com o passar do tempo, inicia-se o adensamento do dossel e este grau de luminosidade cai drasticamente. Então, essas espécies que necessitam de grande quantidade de luz em todas as suas fases da vida, às vezes, não conseguem crescer e chegar a uma categoria de tamanho superior por falta de luz, caracterizando espécies pioneiras.
O levantamento para identificação das espécies vegetais existentes na Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, que é uma área com capoeira, ou seja, vegetação secundária, iniciado em março de 2011, é o passo inicial para que se determinem as famílias que apresentem maior representatividade e as condições ecológicas em que essas espécies se desenvolvem. Em seguida virá o uso – ambiental, paisagístico, medicinal e econômico – dessas espécies.

POTENCIAL DE USO DAS  ESPÉCIES ARBÓREAS DA FLORESTA SECUNDÁRIA
A vegetação secundária (capoeira) surge a partir do abandono da área utilizada após o desenvolvimento de atividades agropecuárias. Na região do Médio Mearim, estima-se que cerca de 90% da cobertura vegetal existente seja de capoeiras que podem originar a floresta secundária.
Rios et. al. (2001) afirmam que as florestas secundárias, nas diversas etapas de desenvolvimento, são capazes de prover importantes recursos às populações tradicionais. Além disso, desempenham um papel de elevada importância ecológica, em termos de crescimento florestal, acúmulo de biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e manutenção da biodiversidade (Nepstad et. al., 1996; Pereira & Vieira, 2001). Nelas podem-se encontrar espécies madeireiras de rápido crescimento e de boa formação com alto valor econômico (Denich, 1991).
O manejo deste tipo de floresta ainda é pouco utilizado, não sendo possível descrever o sucesso prático dessa atividade, mas já existem exemplos bem sucedidos de manejo de florestas secundárias na Costa Rica (Finegan, 1992).
Segundo Fachim & Guarim (1995), o conhecimento inadequado da biologia das espécies, de seus potenciais para diferentes usos e de variabilidade genética inter e intra populacionais existentes vêm levando à perda irreversível de recursos genéticos de espécies, antes que esses estudos, ao menos, tenham sido efetuados. No entanto, há carência de estudos que visem a identificação da potencialidade de uso de espécies de floresta secundária, dificultando a possibilidade de manejá-los.
A potencialidade de uso da floresta secundária com mais de 20 anos é grande, sem dúvida um estímulo à conservação dessas florestas para seu aproveitamento econômico. Todavia isto não tem ocorrido no Médio Mearim pela falta desse conhecimento, bem como pelo uso constante da agricultura de subsistência, não permitindo que se estabeleça a floresta secundária.
Como exemplo pode-se utilizar o levantamento de uma área nessas condições no município de Bragança – PA, levando-se em consideração que a composição florística dessa capoeira não difere muito de outras da região, pode-se extrapolar este elevado potencial para as demais áreas existentes atualmente na Amazônia Oriental e na Pré Amazônia maranhense, área que o Médio Mearim tem sua formação na floresta primária. A tabela 1 demonstra esse potencial.Tabela 
1. Percentagem da Densidade por Grupo de Uso de uma Floresta Secundária de 20 Anos em Bragança – PA.


Grupo de Uso
Densidade %
Madeira c/ alto valor comercial
27,4
Madeira c/ baixo valor comercial
3,5%
Madeira p/ construção rural
47,3
Madeira p/ lenha
3,9
Frutos
6,2
Extrativos
0,2
Medicinal
1,2
Artesanal
2,0
Sub-total
91,7
Sem uso conhecido
8,3
Total
100,0


Fonte: Alvino et. al., 2005.

IDENTIFICAÇÃO  BOTÂNICA
A identidade de uma planta – identificação botânica – possibilita a obtenção de informações científicas sobre a mesma para seu uso econômico, medicinal, ornamental, paisagístico, etc., e também a discussão do processo de sua conservação.
O método usual utilizado conta com o conhecimento empírico de nativos conhecedores da área (mateiros) – o que tem sido feito na Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, do ISAM – os quais adotam nome vernacular na determinação das espécies. Essas pessoas adquirem seus conhecimentos através de ensinamentos que passam de geração em geração, até criam nomes que os façam lembrar o “tipo” de árvore a qual querem fazer referências, mas nunca fazem coletas botânicas para conferências.
O uso do nome vernacular na identificação botânica normalmente omite a verdadeira ocorrência geográfica das espécies, pois existe grande variações destes nomes associados à diferentes espécies e que mudam conforme a região, a cultura ou ao uso na comercialização (Martins-da-Silva, 2002). Uma espécie chega a ter até dez nomes vernaculares e existe ainda a relação de diversos nomes vernaculares para um mesmo táxon (Camargos et. al., 2001; Martins-da-Silva, 2002).
Kanashiro (2002) afirma que por serem semelhantes a olhos não treinados, as espécies são confundidas e exploradas de forma desordenada e não rentável; afirma também que a distinção das espécies de forma clara e didática é necessária para minimizar prejuízos econômicos e colaborar para o controle da manutenção da biodiversidade. Isto só é possível com a classificação botânica em bases sistemáticas.
O aproveitamento – ecológico e econômico – da flora de qualquer região deve iniciar por sua identificação botânica. Esta é feita pela Taxonomia e Sistemática, que agrupam as plantas de acordo com seu grau de parentesco e suas afinidades naturais, isto é, sua filogenia. Para tanto, são usados subsídios vindos de todos os demais campos da Botânica, tais como morfologia, anatomia, filogenia, fitogegrafia e evolução.
A nomenclatura das plantas é regida pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica, que é atualizada a cada quatro anos, no Congresso Internacional de Botânica (Filgueiras, 2008).
A sistemática agrupa as plantas em grandes categorias, geralmente chamadas Divisões. Estas Divisões são formadas por Ordens, Famílias, Gêneros e Espécies. Esse trabalho é feito no campo e no herbário. No campo ocorre a coleta do material botânico – flor, fruto, folhas, localização etc. – no herbário esse material é examinado minuciosamente.
O ISAM iniciou o trabalho de campo em março de 2011, na Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”, em Pedreiras (MA). O herbário utilizado para a identificação desse material é o Herbário IAN, do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA). Também é usado o Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil, do Instituto Plantarum de estudos da Flora Ltda. Já foram identificadas dezessete espécies:
Angico (Anadenanthera macrocarpa) (Benth.) Brenan
Axixá (Sterculia excelsa) Mart.
Bordão (Samanea tubulosa) (Bentham) Barneby; Grimes
Cabo-machado (Pteredon emarginatus) Vogel.
Juruparana (Gustavia augusta) L.
Maçaranduba (Manilkara bidentata) (Miq.) T. D. Penn.
Mufumbo (Campomanesia lineatifolia) Ruiz & Pav.
Mutamba (Guazuma ulmifolia) Lam.
Pau-d’arco-amarelo (Handroanthus serratifolius) (Vahl) S. O. Grose
Pau-d’arco-branco (Tabebuia roseoalba) (Ridl.) Sandwith.
Pau-marfim (Agonandra brasiliensis) ex Benth. & Hoo. f.
Pau-roxo (Dalbergia cearensis) Ducke.
Pitombeira (Talisia esculenta) (A. St. –Hil.) Radlk
 Pituruna (Cenostigma tocantinum) Duck.
Sapucaia (Sterculia striata) A. St. –Hil. & Naudin
Tuturubá (Pouteria macrophylla) (Lam.) Eyma
Estas dez espécies estão disponibilizadas neste blog. Além da identificação botânica (família, espécie, morfologia, fenologia e ecologia), são apresentadas informações fitotécnicas (obtenção de sementes e produção de mudas). A utilização das mesmas é apresentada, e também a foto de cada espécie, na Reserva Ambiental, feita em julho de 2011.
Uma das utilizações importantes e imediatas, dessas dez espécies, que o ISAM oferece à sociedade do Médio Mearim é inseri-las na recomposição da flora ciliar da bacia hidrográfica do rio Mearim. Com o apoio de políticas públicas e programas já disponíveis, o ISAM pode oferecer do bioma do Médio Mearim o aproveitamento econômico de sua floresta secundária (capoeiras), também a partir das espécies identificadas.
O trabalho de identificação botânica das espécies continuará. Neste primeiro momento, na Reserva Ambiental; posteriormente em áreas escolhidas (por critérios ecológicos e econômicos) na região do Médio Mearim. Os estudos devem levar ao recondicionamento possível da flora original, fornecendo subsídios para reintroduzi-la no desenvolvimento econômico sustentável do Médio Mearim.
O Instituto Socioambiental do Médio Mearim (ISAM) através da Reserva Ambiental "Newton Martins Barbosa" desenvolve trabalho de pesquisa com objetivo de ampliar o conhecimento da flora do Médio Mearim, de modo a propiciar subsídios ao desenvolvimento econômico desta região.
Seus objetivos são: conhecer a biodiversidade dos ecossistemas regional; pesquisar as espécies em risco de extinção, de valor econômico, de uso medicinal e de uso paisagístico; desenvolver a produção de sementes e mudas; assessorar a implantação de povoamentos florestais econômicos, paisagísticos e conservacionistas.
O estabelecimento desses objetivos propicia um acervo que deve ser usado na educação ambiental pela interface com diversas áreas do conhecimento, e com as populações nativas conhecedoras da flora regional, de modo que seja resgatado o valor da flora desta região como um capital a disposição do seu desenvolvimento.
Para tanto, o estudo da composição e estrutura de comunidades florísticas é fundamental para embasar ações de conservação, restauração e uso dessa flora. Isto implica sua identificação desde sua origem como mata primária até nossos dias para que se possa entender as modificações ocorridas.
Da época da ocupação humana até nossos dias houve uma grande modificação na flora desta região. Esse recurso natural, direta e indiretamente deu contribuições importantes para a formação da sociedade local. Nesse percurso, a expansão da fronteira agrícola foi a principal responsável pela alteração dessa cobertura vegetal. Nesse processo não foram poupadas nem mesmo as áreas de proteção permanente.
Entender essa modificação, sua contribuição ao desenvolvimento, resgatar espécies de interesse econômico, em risco de extinção, e aquelas de uso medicinal, gerar conhecimento sobre as florestas secundárias de modo a contribuir com o desenvolvimento econômico regional constituem objetivos do ISAM através da Reserva Ambiental “Newton Martins Barbosa”.
O conhecimento da dinâmica da composição florística da região é um elemento importante para que esse recurso natural continue a se inserir na economia regional. A composição da floresta primária, a intensidade de sua exploração, o ciclo de regeneração natural dessa flora, a floresta secundária e seu potencial de uso são conhecimentos que permitirão um melhor uso dessa vegetação.
Desse modo as pesquisas com esses interesses abrangem o conhecimento da floresta primária, a contribuição dessa flora na formação da sociedade local, quer seja de modo direto por sua utilização econômica ou não, quer seja de modo indireto, que após ser derrubada e queimada fertilizava o solo produzindo abundantes safras de arroz, milho e algodão que impulsionaram o desenvolvimento regional. Outra linha de pesquisa diz respeito ao estudo da atual composição dessa flora, ou seja, a floresta secundária que também pode contribuir com o desenvolvimento da região.
Assim, o presente trabalho busca o entendimento geral dessas questões, passo inicial para futuros aprofundamentos em parceria com outras instituições regionais e extra região. No primeiro segmento trabalha-se com a composição da floresta primária que aqui se formou, mas que hoje muito pouco ou nada ainda resta na região. Na segunda parte busca-se entender a vegetação sucessora, floresta secundária, como se forma, qual seu ciclo de maturidade, e que nesta região tem uma particularidade que é a formação dos babaçuais. O terceiro aspecto desta pesquisa visa determinar qual o potencial de uso das espécies arbóreas existentes na floresta secundária. E finalmente urge a determinação botânica dessa flora, como requisito indispensável ao trabalho que o ISAM se propõe.